Dias após sobreviver a um incêndio acidental em seu apartamento, na zona sul de São Paulo, o dramaturgo e fundador do Teatro Oficina, José Celso Martinez Corrêa, faleceu no Hospital das Clínicas, aos 86 anos. Ele estava na UTI com 53% de seu corpo queimado.
O incêndio que causou a morte da lenda do teatro foi provocada por um aquecedor elétrico, na madrugada da última terça-feira (4).
Zé Celso marcou seu nome no panteão das artes cênicas brasileiras por ter sido o grande responsável por melhor interpretar o movimento tropicalista nos palcos. Ao lado de Renato Borghi, Fauzi Arap, Etty Fraser, Amir Haddad e Ronaldo Daniel, criou o grupo de teatro que, por meio da arte, se contrapôs à tirania da ditadura militar e ao conservadorismo.
Na década de 1970, realizou a montagem de “O Rei da Vela”, que viria a ser um dos maiores – se não o maior – clássicos do teatro no Brasil. A obra é uma adaptação do livro homônimo de Oswald de Andrade, de 1933, que discute a relação de subserviência do país em relação ao mundo “desenvolvido”.
Sob a égide do tropicalismo, reviveu a antropofagia modernista, devorando a cultura estrangeira de um modo que rompesse com o estilo europeizado do TBC (Teatro Brasileiro de Comédia).
Conhecido pela escatologia nos palcos, integrando a plateia aos espetáculos – esses, por sua vez, repletos de nudez -, Zé Celso estabeleceu a linguagem transgressora do Oficina e, com isso, de todo um movimento artístico.
Por seu pensamento livre e contraventor, Zé Celso foi preso numa solitária e torturado pelo regime militar em 1974, além de ter sido obrigado ao autoexílio em Portugal. Em 2010 ele foi anistiado pelo estado brasileiro e recebeu uma indenização de R$ 570 mil.
Zé Celso deixa o marido, Marcelo Drummond, ator do Oficina, com quem viveu durante 37 anos.