O grande acontecimento mundial neste início de ano foi a posse do presidente estadunidense, Donald Trump, ocasião marcada por uma série de eventos, por si só, dignos de dissertações complexas para analisá-los. Além das medidas que reverberarão por todo o planeta, um momento chamou a atenção por servir para exemplificar o sinal dos tempos.
Quando a episcopisa Mariann Edgar Budde interpelou o recém-empossado homem mais poderoso do mundo e, do púlpito da Catedral de Washington, apelou que ele tivesse misericórdia com os desvalidos, imigrantes e a população LGBT+, Trump demonstrou revolta e exigiu um pedido de perdão.
Para o novo presidente, repetir os dizeres do Deus que ele diz acreditar é extremismo de esquerda. Não só repudiável, quanto digno de a líder religiosa ajoelhar-se diante da magnitude da Casa Branca e, tal qual Pedro se recusou a fazer, renunciar a Cristo.
Dizia o poeta que, para falar com Deus, tem que virar um cão e comer o pão que o diabo amassou, numa metáfora para a humildade diante do divino. No universo da extrema-direita, com brasileiros vergonhosamente incluídos, a proximidade com o altíssimo vem da pureza ariana.
Se Cristo resolvesse cumprir sua promessa de retornar agora em 2025, seria ele tratado como um cão.
Este jornal, assim como este país, é laico. Preocupa, porém, quando, numa sociedade majoritariamente cristã, a palavra “misericórdia” causa repulsa. Não se deve acreditar naqueles que falam, em nome de Deus, aquilo que Deus nunca disse. Perdoai-os, eles só sabem o que fazem.