O governador carioca de São Paulo, Tarcísio de Freitas, jamais foi entusiasta das câmeras corporais nas fardas da Polícia Militar. Desde antes de sua eleição, deixou claro que via nelas uma afronta à autoridade policial. Chegou a afirmar, em 2022, que o equipamento representava um “voto de desconfiança” no policial. Depois, disse que “nenhuma” era sua efetividade para a segurança do cidadão.
Agora, constrangido por uma ação da Defensoria Pública e pressionado pelo Supremo Tribunal Federal, Tarcísio foi convencido — não por convicção, mas por força judicial — a manter e ampliar o uso das câmeras. O acordo homologado pelo ministro Luís Roberto Barroso estabelece um aumento de 25% nos equipamentos e garante mecanismos para evitar o desligamento proposital. Sem essa intervenção, é plausível supor que o governador seguiria na contramão da transparência.
A tecnologia já provou sua eficácia. Entre 2019 e 2022, os batalhões que utilizaram câmeras tiveram queda de 76,2% na letalidade policial. Mesmo assim, nos dois primeiros anos do atual governo, as mortes provocadas por PMs quase dobraram — de 355 para 702.
A política de segurança de Tarcísio aposta na truculência e despreza dados. Em vez de ampliar instrumentos de controle e valorização do bom policial, tentou flexibilizar a ativação das câmeras, brecha perigosa que fragilizava a fiscalização.
A manutenção das câmeras não é vitória do governador. É a derrota de sua política. O STF interveio para garantir o óbvio: proteger vidas com transparência.