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Terra de gente boa, unida e que defende suas origens: essa é a Vila Industrial

A diversidade cultural do bairro reúne samba, futebol e religiosidade
A maior parte da população que vive na Vila Industrial é descendente dos primeiros habitantes / Fotos: Bruno Arib

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A Vila Industrial, em Mogi das Cruzes, é um dos bairros mais importantes do município – considerado o berço da industrialização da cidade (não à toa tem esse nome) – e o mais simbólico, por ser o único local mogiano capaz de movimentar três atividades que estão ligadas à natureza do povo brasileiro: samba, futebol e religiosidade.

No bairro, que fica próximo ao centro de Mogi, há uma escola de samba, a Unidos da Vila Industrial; uma igreja, a Nossa Senhora do Rosário; e um estádio de futebol profissional, o Nogueirão.

Com suas 23 ruas e vias, a Vila Industrial possui 510 casas, a maioria delas construídas na época de sua industrialização. A Vila Industrial, como o próprio nome diz, se formou por ocasião da instalação e funcionamento da antiga Cosim (Companhia Siderúrgica de Mogi), como bairro ocupado prioritariamente por trabalhadores da empresa.

No início da década de 1940, a família Jafet, vinda de Minas Gerais e que havia se estabelecido no estado de São Paulo, executou um projeto ambicioso a fim de explorar os minérios que existiam em terras mogianas: construiu uma grande siderúrgica em Mogi, a MGB (Mineração Geral do Brasil), que, anos mais tarde, se tornou a Cosim (Companhia Siderúrgica de Mogi das Cruzes).

Então, os Jafet inauguraram a MGB em 1944 e, no seu entorno, surgiu a Vila Jafet, que, posteriormente, virou Vila Industrial.

Os mogianos, que até essa época tinham como principal fonte de renda a atividade agrícola, viram, com a chegada dos Jafet e a instalação da MGB, a cidade se desenvolver rapidamente. Principalmente os mogianos que já viviam no local onde a Vila Industrial foi formada.

Mas o crescimento da Vila Industrial aconteceu, de fato, depois que a MGB contratou centenas de trabalhadores mineiros vindos das cidades de Sabará, Congonhas e Ouro Preto. E, assim, surgiu um bairro inteiro, com mais de 300 casas geminadas construídas pela empresa para abrigar os operários que chegaram a Mogi.

As mais de 300 casas foram levantadas de forma padrão, isto é, com arquiteturas e fachadas iguais, que estão da mesma maneira até os dias atuais. Nascia, então, a Vila Industrial, um bairro boêmio e nostálgico, tendo grandes poetas do samba que, desde sempre, fizeram a alegria do bairro; campos de futebol para o lazer dos filhos dos operários e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário (uma das mais antigas de Mogi), para prosperar a fé dos mineiros e mogianos (que é um povo tradicionalmente religioso).

A história da Vila Industrial está na sua gente

O bairro é formado basicamente por moradores antigos, com muitas histórias para contar. A comerciante Maria José de Paula é uma delas.

“Moro há 42 anos só nessa casa, e há 30 anos tenho o comércio. Eu gosto de morar aqui, tenho tudo para falar de bom daqui, é um lugar muito bom para morar”, relata. 

Maria José de Paula
Maria José de Paula

Ela não trabalhou na MGB/Cosim, mas seu marido se aposentou na empresa. “Meu marido trabalhava, ele foi aposentado lá com 38 anos de trabalho”, comenta Maria, confirmando que os moradores têm uma ligação muito intensa com a história da Vila Industrial.

O autônomo Emerson Rodrigues da Silva, o Lezinho, é nascido e criado no bairro. E ele é um dos personagens centrais da Vila Industrial atualmente. “Sou o presidente da escola de samba e sou o festeiro da próxima Festa do Rosário (realizada há mais de 60 anos), que irá acontecer no final de setembro.”

“A Vila é história da minha vida, meus pais vieram de Minas para cá, meus irmãos são todos nascidos aqui, a família é toda enraizada no bairro”, corrobora Lezinho.

Emerson Rodrigues da Silva, o Lezinho

Morando na Vila desde 1981, o comerciante Sergio Neves Ferreira também trabalhou na antiga Cosim e seu pai foi um dos trabalhadores que migraram para Mogi.

“Quem era chefe na empresa morava nas casas que tinham garagem, as casas maiores; para os funcionários de pouco porte, eram as casas menores”, revela o comerciante, que mora até hoje na casa ganha por seu pai assim que chegou ao bairro. “Aqui é bom, é tranquilo”, garante.

Sergio Neves Ferreira

Acevi e Nikai são entidades atuantes no bairro

A Acevi (Associação de Cultura e Esporte da Vila Industrial) e o Centro Cultural Nikkai são duas instituições que trabalham em prol do bem-estar dos moradores da Vila Industrial.

Na Acevi é realizado um trabalho filantrópico voltado para atividades esportivas. “Temos várias atividades lá. A gente tem kickboxing, taekwondo, capoeira, vôlei, basquete e futebol society”, enumera José Ferreira, presidente da Acevi, que também é nascido e criado na Vila Industrial. “São quase 300 crianças. O objetivo é retirar as crianças das ruas”, completa.

Do outro lado do bairro, existe o Centro Cultural Nikkai, presidido por Bento Fugí, entidade que existe há mais de 70 anos, cuja sede sempre esteve na Vila Industrial.

“No ano passado, a gente fez arrecadação de roupas e distribuiu para o pessoal. No que a gente puder estar ajudando, a gente ajuda, sem fins lucrativos”, explica Fugí, visto que o Centro Cultural Nikkai existe para preservar a cultura e a tradição japonesa. 

Ele ressalta o trabalho realizado com a comunidade oriental de Mogi, tanto os jovens quanto os idosos: “A gente sente bastante satisfação de trabalhar com pessoas idosas e jovens. Há conexão entre eles. Fico bastante feliz e satisfeito, é uma coisa que nenhum dinheiro paga.”

Na Vila ainda há anônimos que se preocupam com seus semelhantes. É o caso do autônomo José Aparecido da Silva, que mora no local desde que nasceu. “A gente faz festas aqui na rua, festa junina, festa de Natal para as crianças. Procuramos promover porque são coisas que estão se perdendo com o tempo, ninguém mais está falando nisso”, lamenta.

José Aparecido é conhecido por promover festas comunitárias há muitos anos

Futebol e samba fazem tabelinha e dão o tom na Vila

Os moradores atuais da Vila Industrial são, na maioria, descendentes dos operários que trabalharam na MGB/Cosim. E boa parte deles também trabalhou na empresa.

Um morador que personifica a história do bairro é Sebastião Xavier Filho, de 64 anos, um dos mestres do samba de Mogi das Cruzes. Seu pai foi um dos mineiros que se mudaram para a Vila Industrial. Xavier também trabalhou na siderúrgica.

Xavier afirma que o esporte e o samba no bairro já surgiram nos tempos da instalação da siderúrgica.“A MGB tinha um clube aqui, que era o Esporte Clube MGB. Os funcionários eram sócios, era descontado um valor mensal [dos funcionários] e era o lazer que a gente tinha aqui.”

Xavier compõe sambaenredo para escola do bairro

“E na década de 1960, a própria MGB mantinha uma escola de samba, que era a Minerasil, que foi cinco ou seis vezes consecutiva campeã do Carnaval de Mogi. Então, a relação do bairro com o samba já vem dessa época”, conta Xavier.

Atualmente, a escola de samba que representa o bairro no Carnaval de Mogi é a Unidos da Vila Industrial, a atual tetracampeão dos desfiles da cidade (o desfile das escolas de samba de Mogi não é realizado há três anos).

“A nossa história de vida está fincada nesse chão por tudo isso que a gente viu aqui”, diz Xavier, que além de compositor da Unidos da Vila Industrial, já foi diretor e presidente da escola.

Moradores reclamam do Shibata

Muitas pessoas que vivem na Vila Industrial reclamam sobre a falta de comprometimento de algumas empresas instaladas no bairro, principalmente o Supermercado Shibata. 

Os moradores afirmam que o supermercado, por ser uma empresa grande, poderia, se quisesse, gerar mais emprego no bairro, ter iniciativas que melhorassem a própria infraestrutura local, afinal, o bairro inteiro faz compras no Shibata. Como disseram alguns entrevistados: “Damos muito lucro ao Shibata e eles não fazem nada por nós.”

Houve ainda quem foi além, afirmando que “os japoneses só pensam neles, eles não gostam de ajudar os brasileiros”.

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