Não há dúvidas de que o Brasil é realmente extraordinário, no sentido literal da palavra mesmo, de não se tratar de algo comum. Vivemos em um país jovem, complexo, de dimensões continentais, população diversa, riquezas naturais e culturais, e, sobretudo, uma esmagadora desigualdade social.
Este traço, alicerce principal da identidade nacional brasileira, é um claro reflexo de termos sido o último país do mundo a abolir a escravidão e, mesmo quando o fez, ter abandonado a grande massa de negros “libertos” à própria sorte, se acumulando sob os morros e sobre os rios, expostos a tragédias como as que temos visto no Litoral Norte e no próprio Alto Tietê neste último mês.
A outra face desta odiosa moeda também não pode deixar de ser mencionada. O abismo classista em que a maioria esmagadora da população se encontra no fundo tem em seu topo uma das mais sórdidas, vis e abjetas elites do mundo. Exemplo claro deste ódio ao povo está na descoberta do projeto de construção de moradias populares em São Sebastião, que seriam utilizadas para tirar pessoas de áreas de risco, barrado pelos ricos donos de casas de veraneio em Maresias.
O que atribui a humanidade ao bicho-homem é justamente o senso de comunidade, de enxergar o outro enquanto seu coigual. Sem isso, voltamos à lógica predatória, só que, ao contrário da vida selvagem, sem dignidade alguma.
No Brasil, a separação entre caça e caçador é muito clara e o “lobo do homem” é insaciável.