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‘Nosso esgoto é o rio’: falta de saneamento gera revolta contra a Sabesp em Itaquá

Prefeitura, Câmara e população se cansam do descaso da empresa, que, além de deixar a desejar com coleta de esgoto, tem poluído o rio Tietê
Manilhas da Sabesp despejam esgoto diretamente no rio em meio às casas de itaquaquecetubenses
Manilhas da Sabesp despejam esgoto diretamente no rio em meio às casas de itaquaquecetubenses - Foto: Cecília Siqueira

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“A gente não tem esgoto, nosso esgoto é o rio”. Por incrível que pareça, essa frase não foi proferida em tempos primitivos, mas sim em 2024, na cidade de Itaquaquecetuba, por Eleni Alves, 50. Moradora da Vila Maria Augusta há 22 anos, ela falou à GAZETA sobre o descaso com que a população itaquaquecetubense e o Rio Tietê são tratados há décadas pelo governo estadual e pela Sabesp.

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A região das vilas Maria Augusta e Japão sofre, ao menos anualmente, em períodos de fortes chuvas, com alagamentos. Nestes momentos, além da água, bairros inteiros são tomados pelo próprio esgoto.

“Aqui, todo ano dá enchente, e a água traz todo o esgoto, com fezes, sujeira, tudo. Vem tudo para dentro da casa da gente”, contou Maria Martins, 72. Vivendo na região há mais de trinta anos, ela resume o tratamento da Sabesp em uma frase: “Nós somos esquecidos.”

Dona de casa Maria Martins, 72, moradora da Vila Maria Augusta – Foto: Cecília Siqueira

A afirmação não está inteiramente correta, já que o bairro conta com o fornecimento de água. Todos os moradores ouvidos pela reportagem recebem – e pagam – mensalmente a cobrança da Sabesp, só não têm acesso à devida destinação do esgoto.

Além de não oferecer o serviço a todos os moradores do bairro, a empresa, recém privatizada, também tem despejado diretamente o esgoto no rio, como flagrou a reportagem na Estrada do Bonsucesso, ao lado da Estação Elevatória de Itaquaquecetuba. No local, ao menos duas manilhas despejam, ininterruptamente, água suja no rio. Em uma delas, o esgoto sai pela lateral de um bueiro, na calçada, e, pela rua, desemboca no Tietê.

A revolta, porém, chegou ao poder público itaquaquecetubense. Em entrevista ao “Política Se Discute”, programa produzido pela GAZETA no Youtube, o presidente da Câmara Municipal de Itaquaquecetuba, David Ribeiro da Silva (PL), o David Neto, classificou a situação como “o maior crime ambiental do Brasil”.

“Em Itaquá, apenas 20% do esgoto vai para tratamento, o resto é tudo afastamento, e esse afastamento vai todo para o Rio Tietê. Eles cobram o valor da água e da coleta de esgoto, e só fazem o afastamento para o rio. São mais de 40 toneladas de esgoto jogadas no rio todos os dias, com resíduos sólidos e líquidos. Então, quem entope o Rio Tietê é a própria Sabesp”, disparou David Neto.

Na outra margem do rio, outra manilha despeja esgoto; isso acontece ao lado da Estação Elevatória Itaquaquecetuba, da Sabesp, na Estrada do Bonsucesso – Foto: Cecília Siqueira

Procurada, a prefeitura disse que, em maio deste ano, recebeu um ofício “no qual são mencionados os dois bairros e apresentado o cronograma das obras estruturantes, incluindo a implantação de interceptores, coletores e estações elevatórias de esgoto. As obras têm término estimado para o 1º semestre de 2026.”

“Vale ressaltar que conforme a legislação municipal nº 113/2005, que estabelece a Política Municipal de Gestão e Saneamento Ambiental, o Art. 160 diz que é proibido o lançamento de esgoto in natura em corpos d’água. A prefeitura acionou a concessionária para esclarecimentos e para paralisar os possíveis descartes”, completa a municipalidade.

Questionada sobre a coleta de esgoto nos bairros citados, a Sabesp disse que “a ampliação dos serviços de coleta de esgoto nos bairros Vila Japão e Vila Maria Augusta está em andamento e será finalizada logo após a conclusão das obras de recuperação e adequação estrutural da Estação Elevatória Itaquaquecetuba, que será responsável por encaminhar o esgoto coletado da região para a Estação de Tratamento São Miguel.”

A companhia relembrou também os problemas que têm ocorrido, há pouco menos de dois anos, na Estação, que, ironicamente, foi danificada por uma enchente: “A elevatória, pronta em 2022, sofreu inundação em março de 2023, danificando suas estruturas. Já foram realizados os testes de performance dos motores e bombas e as atividades civis estão em execução. O pleno funcionamento desta elevatória está previsto para o primeiro trimestre de 2025”.

“Vale reforçar que também estão em andamento as obras do IntegraTietê, que visam avançar significativamente na coleta e tratamento de esgoto, contribuindo para a revitalização do Rio Tietê e seus afluentes. Este programa engloba a construção de 850 quilômetros de coletores tronco e interceptores, 550 quilômetros de redes coletoras de esgoto e a ampliação e modernização de estações de tratamento como as ETEs ABC, São Miguel Paulista, Parque Novo Mundo e Barueri. Também estão previstas novas estações em Guarulhos, Caieiras e Perus, fortalecendo a capacidade de tratamento e garantindo maior eficiência e sustentabilidade”, completou a empresa.

Sobre o flagrante crime ambiental, com o despejo de esgoto diretamente no rio Tietê, a Sabesp se calou.

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