Nos últimos tempos o Brasil vem acompanhando uma crescente onda de conservadorismo, que tem como um de seus alvos principais justamente a manifestação popular mais popular do mundo. Nesta semana que antecede o carnaval, até as pessoas que passaram anos negando a existência da pandemia e da Covid-19 estão demonstrando preocupação com a proliferação do vírus.
Esse fenômeno pode ser explicado pelo progresso do movimento neopentecostal, que exacerbou ainda mais o moralismo cristão oriundo do domínio católico no Brasil, mas é impossível não notar que a aversão ao carnaval – assim como ao samba, à capoeira, ao rap, ao funk e ao candomblé, por exemplo – tem uma origem muito mais atrelada às pessoas que o faz, principalmente à cor de suas peles.
Claro que a escolha do que fazer durante o feriado é única e exclusivamente reservada ao foro individual. O objetivo deste texto não é fazer juízo de valor sobre aquelas pessoas que preferem a tranquilidade à festa, sim trazer uma reflexão sobre o que há por trás do preconceito contra esta manifestação cultural.
O motivo para uma parcela da população se incomodar tanto com o carnaval é por ele representar quatro dias em que o Brasil desce do morro e não morre no asfalto. São quatro dias em que, nas avenidas e nas ruas, o povo cultua sua liberdade.
A festa da carne é, sobretudo, daquela que Elza Soares cantava ser a mais barata do mercado. É festa, claro, mas repleta de simbologia, ancestralidade e senso de comunidade. Acima de tudo, é o Brasil.