Celebrado no dia 02 de novembro, o Dia de Finados tem como objetivo relembrar a memória dos entes queridos que já se foram e, para os católicos, rezar pela alma deles. Nesta data, milhares de pessoas vão aos cemitérios para deixar flores nas lápides e cumprir rituais tradicionais, como orações e cânticos. Para que isso aconteça da melhor maneira, o trabalho dos coveiros é imprescindível.
Ainda assim, atitudes preconceituosas circundam estes profissionais, que atuam pela dignidade do momento da despedida de quem amamos. Para entender melhor essa atuação, a GAZETA conversou com alguns desses profissionais, que relataram como eles encaram a profissão, além de contar histórias que vivenciaram, lendas e superstições relacionadas ao trabalho nos cemitérios.
Sob sol quente, chuva ou frio, os sepultadores (nome técnico dado aos coveiros) lidam diariamente com a tristeza da perda de entes queridos. O esforço braçal pode ser fisicamente complexo, mas, para eles, o grande desafio mesmo é segurar a emoção e lidar com o psicológico abalado após o trabalho.
Coveiro há 16 anos em Suzano, Moisés da Silva, 46, explica essa dificuldade: “É complicado. A gente vive no dia a dia a dor de outra pessoa. E nós não podemos absorver isso. Então, é preciso saber separar o trabalho da sua vida pessoal e tentar não se abalar. Não é fácil, mas a gente tenta da melhor maneira possível.”
Nem sempre eles conseguem. Moisés conta que os casos envolvendo crianças são os mais difíceis de lidar e relembra uma das situações mais dramáticas que já presenciou, ao buscar o corpo de um pai que estava sendo velado. “Quando chegamos para buscar o sepultamento, a criança estava chorando ao lado do caixão e falando com o pai que estava morto. Eu estava ao lado dele e foi muito difícil ver a cena.”
Igor Martins, 31, é coveiro há três anos em Itaquaquecetuba, e enfrentou situação semelhante:
“Um casal muito jovem faleceu e deixou dois filhinhos, um de quatro anos e outro de seis anos. No momento do sepultamento, eles estavam na ponta da sepultura chorando, chamando pelos pais que faleceram. Como eu tenho um filho da mesma idade, acabei levando comigo essa cena.”
Preconceito
Como se não bastassem as dificuldades físicas e emocionais, o preconceito escancarado, os olhares de desprezo e as piadas de desmerecimento também fazem parte do dia-a-dia dos sepultadores, trazendo muita tristeza para quem, com muita empatia, busca fazer o bem.
“A gente tenta fazer o nosso trabalho da melhor maneira possível, deixando o ambiente mais agradável para todos nesse momento tão doloroso. Estamos agora em véspera do Dia de Finados e pode ver que o cemitério está com uma aparência melhor. Isso, para as famílias chegarem aqui e se sentirem o mais confortável possível”, disse o coveiro Moisés.
Lendas e superstições
Há muitos anos, os cemitérios são fontes de lendas e superstições, a maioria delas macabras. Em Mogi das Cruzes, por exemplo, no abandonado Cemitério Nossa Senhora do Carmo, conhecido como “Cemitério dos Leprosos”, populares contam que, à noite, é possível ouvir sussurros, passos e até ver vultos entre as lápides.
Já em Suzano, em meio a tanta tristeza, o cemitério também é um lugar de busca e agradecimento. A imagem de São Bento, considerado milagroso por muitos, presente em uma das sepulturas, atrai centenas de devotos para pedir, fazer preces e agradecer pela graça alcançada.