Search
Close this search box.
Search
Close this search box.

Separadora de recicláveis é exemplo que lugar de mulher é onde ela quiser

Trabalhadora da reciclagem, Rosane Rodrigues falou à GAZETA sobre fazer aquilo que gosta com orgulho e dignidade

Receba as novidades direto no seu smartphone!

Entre no nosso grupo do Whatsapp e fique sempre atualizado.

Há uma frase da escritora e filósofa francesa Simone de Beauvoir que diz “é pelo trabalho que a mulher vem diminuindo a distância que a separava do homem, somente o trabalho poderá garantir-lhe uma independência concreta”. No Brasil, onde as desigualdades sociais e de gênero são abissais, o trabalho para as mulheres, por vezes, se torna uma questão vital.

Este é o caso da separadora de materiais recicláveis Rosane Rodrigues Paes, 29 anos, que, depois da morte de seu pai quando ela tinha 12 anos, teve de abandonar a infância e adentrar no mercado de trabalho para ajudar sua mãe e seus irmãos no sustento da casa. Essa necessidade se fez ainda mais latente quando, segundo ela, sua família paterna impediu que a viúva tivesse acesso à pensão, por não ser oficialmente casada com ele, inclusive queimando documentos do falecido.

Caçula de oito irmãos, Rosane conta que, pelos mais velhos já terem saído de casa no momento da perda do pai, ela, apesar da pouca idade, acabou assumindo alguns papéis desempenhados por ele. “Quando meu pai faleceu e, pouco depois, meu irmão casou, ficou só eu e minha mãe para correr atrás de tudo, então eu acabei assumindo essas responsabilidades”, explicou.

Apesar de ainda não ter sequer completado 30 anos, Rosane já acumula uma vasta experiência profissional, tendo trabalhado como ajudante de cozinha em duas empresas, arrumadeira em um motel e separadora de materiais recicláveis, função que desempenha hoje.

Ela conta que partiu dela a decisão de deixar o emprego no motel para trabalhar com a sucata, mesmo sob julgamento até de pessoas de sua família: “Eu fui criticada quando entrei aqui, mas é o que eu gosto. Minha mãe gosta, mas fala que é serviço de homem, mas é o que eu gosto. Fazer o que?!”

Acontece que a mãe de Rosane, assim como grande parte da população, está errada. Segundo o MNCR (Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis), 66% das pessoas que trabalham com reciclagem no Brasil são mulheres.

É desempenhando essa função tão importante para a sociedade, econômica e ambientalmente, que Rosane tira seu sustento, de sua mãe, com quem continua morando, e de seus dois filhos – um menino de 9 anos e uma menina de 4 anos, a quem faz questão de passar alguns valores, como a valorização do trabalho duro, o orgulho de fazer aquilo que gosta e, acima de tudo, a ética.

“Eu não tenho vergonha, eu saio daqui do jeito que eu estou. Eu prefiro isso do que roubar os outros, usar droga, isso sim é vergonha. Se um dia meu filho falar que vai pegar ferro velho, eu falo ‘vai, filho, pode ir’ com orgulho”, completou.

Compartilhe com Todos!
Facebook
WhatsApp

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Fique Informado!

Siga a Gazeta

Leia Também

Publicidade