Paulo Freire sempre nos alertou sobre os perigos da opressão. Em sua obra, ele nos mostra como a educação pode ser um caminho para a libertação dos povos.
No entanto, talvez ele não imaginasse que seu legado, em certos contextos, se tornaria símbolo daquilo que mais combatia.
Hoje, muitos de seus leitores e seguidores não toleram a diversidade de ideias. O que deveria ser libertador se transforma, frequentemente, em dogma.
Ao observarmos o cenário político atual, nos deparamos com um paradoxo: os antigos oprimidos agora oprimem seus próprios irmãos.
Formou-se um pacto opressor disfarçado de liberdade, onde os que se dizem defensores da justiça e do diálogo não aceitam o pensamento divergente. Quem ousa atravessar seus caminhos ou questionar suas “verdades” é silenciado — não com argumentos, mas com rotulações, ataques pessoais e cancelamentos.
O mais doloroso é ver aqueles que um dia estiveram à margem agora atuando como severos agentes da exclusão.
Como isso acontece? Um dos caminhos é justamente a educação. Ao visitarmos algumas universidades públicas, percebemos que espaços que deveriam cultivar o diálogo e o pensamento crítico tornaram-se verdadeiras bolhas ideológicas. Em vez de pluralidade, impõe-se uma “verdade única” — como num “Ministério da Verdade”, tão bem retratado por George Orwell.
No campo político, o cenário não é diferente. Muitos que já sentiram as dores do povo, ao assumirem cargos de poder, rapidamente esquecem suas origens. Usam e abusam dos privilégios que a estrutura oferece, reproduzindo os mesmos abusos que um dia denunciaram.
Essa realidade remete diretamente à teoria da consciência de classe, formulada por Karl Marx: a ideia de que indivíduos precisam entender sua posição na estrutura social e lutar contra a dominação para construir uma sociedade mais justa.
No entanto, na prática, o discurso de consciência de classe parece funcionar apenas enquanto ferramenta retórica. Quando alguns ascendem economicamente ou politicamente, tornam-se os mesmos déspotas que um dia criticaram.
Veja um exemplo real: em Israel, mulheres e minorias têm direitos garantidos e uma democracia sólida. Já no Irã, governado por uma teocracia intolerante, mulheres são perseguidas e silenciadas, e minorias vivem sob opressão constante.
A incoerência está em ver supostos defensores dos direitos humanos aplaudirem ou relativizarem regimes opressores — alinhados ideologicamente com suas crenças.