Mogi das Cruzes é uma cidade ascendente no cenário paulista, tendo se desenvolvido expressivamente nos últimos anos, e um dos maiores exemplos de equilíbrio entre a modernidade e a tradição se dá no bairro do Mogilar. Um dos mais tradicionais da cidade, ele tem a característica de abrigar, além de famílias, uma grande quantidade de comércios, bem como os dois maiores centros de educação superior mogianos, a UMC (Universidade de Mogi das Cruzes) e o Centro Universitário Braz Cubas, além do Hospital das Clínicas Luzia de Pinho Melo.
O desenvolvimento da região tem feito com que ela se torne atrativa para que pessoas que venham de outros lugares a escolham para viver, como é o caso de Júlio César de Oliveira, 40, um engenheiro carioca que veio para o local a trabalho e reside no Mogilar há seis anos. Quando perguntado sobre a motivação para a escolha, o homem não hesita em atribuir à tranquilidade e o senso de coletividade demonstrado pelos moradores.
Essa coletividade, que hoje se tornou atrativo, se dá principalmente pelas famílias e comércios que resistem ao tempo mantendo sua história viva. E não há exemplo melhor da “história viva” do bairro que Carlos Maurício da Silva, 62, dono da “Banca do Maurício” há 48 anos e morador do bairro há 30.
Maurício, como gosta de ser chamado, relembra com carinho dos anos e dos amigos que passaram – e ainda passam – pela sua banca de jornal, que, ao lado do famoso (e já fechado) “Bar do Popó”, marcou a história da região.
“O Bar do Popó foi um marco aqui do Mogilar, a rua toda fechava de gente que vinha aqui no bar. Em época de Copa do Mundo então, era muito pior. Aquilo foi tão marcante que às vezes as pessoas me ligavam e falavam ‘aí é da Banca do Popó?’”, conta aos risos.
O que poucas pessoas sabem, no entanto, é que foi Maurício quem indicou o ponto para que Popó abrisse o bar.
“Ele era meu cliente e um dia ele me disse que estava pensando em abrir um estabelecimento, um bar, aqui na região e perguntou se eu tinha alguma ideia. Na hora eu apontei para o lado e mostrei o prédio, ele até tomou um susto, mas foi em frente e o resto foi história”, relembra.
Quando perguntado sobre o segredo para que a banca tenha se mantido tanto tempo aberta no mesmo lugar, o jornaleiro responde, sem titubeios, que é a amizade com seus vizinhos, que acabaram se tornando clientes cativos. Ele também é um grande incentivador da relação de cumplicidade entre os comerciantes locais: “Eu falo para todos os comerciantes que chegam, isso aqui é um elo, se um quebrar todos acabam quebrando, então não adianta só eu ir bem e os outros irem mal.”
Este exemplo foi seguido também na Pastelaria “Pastel Caseiro”, que se mantém forte e atuante há 53 anos no mesmo local. Diferente da banca, o estabelecimento, famoso por seu pastel assado, não é mais tocado por seu fundador, sim por sua neta, Marilisa dos Santos Câmara, 33, que, assim como Maurício, atribui o sucesso também à tradição familiar.
“É gratificante, às vezes vêm pessoas aqui que falam ‘eu vinha aqui quando era criança’ e hoje são adultos com filhos e até netos“, relata.
O orgulho maior, no entanto, é de honrar o legado do avô. Diferente de muitos negócios que acabam findando quando os donos passam a responsabilidade para os filhos, a “Pastel Caseiro” se mantém pujante já na terceira geração. E, de acordo com Marilisa, não deve parar por aí. “Eu tenho uma filha de 9 anos, ela adora esse lugar, espero que quando crescer ela possa e queira assumir. No que depender de mim, a pastelaria ficará por aqui por muitos anos ainda”, completa.