No mesmo dia que a cidade de Itaquaquecetuba completa 464 anos de sua fundação, este domingo (8), seu maior símbolo arquitetônico e cultural chega aos 400 anos de uma história que se confunde com a do povo que cresceu ao seu redor. Único patrimônio histórico tombado da cidade, a Igreja Nossa Senhora D’Ajuda ultrapassa as barreiras religiosas, simbolizando Itaquá até em suas imperfeições.
A segunda mais velha do estado de São Paulo, “mais jovem” apenas que a Basílica de São Miguel Arcanjo, no bairro de São Miguel Paulista, Zona Leste da capital, a Igreja Matriz de Itaquá foi fundada em 1624 pelo padre José de Anchieta. Seu nascimento teve origem com as ocupações de padres jesuítas ao longo do Rio Tietê, afim de catequisar os povos Guaianases que por aqui viviam.
“A Igreja Matriz de Itaquá é o coração da cidade. Não só porque foi a primeira construção, mas aqui começou tudo. Quando os padres chegaram, eram as tribos indígenas, então eles chegaram, construíram a igreja e, a partir dali, começaram a educar os povos no âmbito religioso, mas também no âmbito da educação comum, e assim começou uma história”, conta o padre Luiz Renato de Paula, pároco há 11 anos.
Assim como a população itaquaquecetubense, as paredes de taipa de pilão precisaram de muita resiliência para resistir às adversidades e ao abandono. Tanto que, quando o clérigo chegou à paróquia, ela estava interditada: “Quando eu cheguei, a igreja estava sem condições de uso, gerando riscos aos fiéis. A fachada estava deslocada, a frente interditada, o telhado tinha desabado, então confesso que fiquei com o coração um pouco triste, desanimado, de ter uma igreja tão bela, mas fechada.”
Foi este mesmo povo, porém, o responsável pelo seu reerguimento. Sem qualquer ajuda do poder público, a comunidade se mobilizou durante anos para arrecadar recursos para o restauro, com bingos, quermesses e etc, podendo celebrar sua reabertura em 2019.
Num processo caro e burocrático, a estrutura conseguiu ser recuperada, o telhado refeito, os acabamentos recompostos, tendo as janelas e a fachada sido as únicas partes que contaram com o apoio da prefeitura, em 2023, na última fase. O processo, porém, ainda não foi finalizado, ainda faltando fazer o forro, a recuperação dos quatro altares, incluindo o principal, e três imagens antigas.
Depois de mais de uma década de luta, a igreja não só está aberta, como receberá, na mesma data do aniversário, o título de Santuário Mariano, dado a templos voltados a manifestações de Maria que recebem grande volume de peregrinação.
Sobre todo esse processo, padre Luiz Renato desabafa: “Orgulho é pecado, mas o nosso orgulho é ver a igreja restaurada graças ao povo. Tudo que foi feito aqui foi graças ao povo.”