Discurso inovador, prática retrógrada: a armadilha de muitos negócios

Quantos negócios hoje se vendem como disruptivos, mas apenas repetem ideias com uma estética mais "cool"?

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Recentemente li A Casa dos Budas Ditosos, de João Ubaldo Ribeiro, e deparei-me com um livro que tenta parecer transgressor ao abordar liberdade sexual, críticas à classe média e à moral religiosa. Mas o que deveria ser ousado soa datado. Em 1999, ano de publicação, esses temas já estavam presentes em músicas, novelas, programas de domingo e até nas igrejas mais progressistas. Hoje, em 2025, essa rebeldia soa inofensiva.

A personagem principal se diz livre, crítica o machismo e o conservadorismo. Mas se contradiz: sente prazer em servir um homem como “rei por um dia”, reduz um homem negro a objeto sexual, e diz viver uma libertação enquanto é moldada pelos estereótipos que crítica. Tudo isso me remete ao comportamento de certos empreendedores.

Quantos negócios hoje se vendem como disruptivos, mas apenas repetem ideias com uma estética mais “cool”? Dizem ser inovadores, mas ainda tratam colaboradores como peças descartáveis, falam de diversidade apenas nos posts, e usam termos da moda para maquiar práticas antiquadas. Assim como a personagem do livro, há empresas que afirmam romper padrões enquanto seguem presos a velhos vícios.

Home office, é a tendência, mas de que adianta o funcionário trabalhar em casa, mas receber um baixo salário? E o que dizer sobre o banco de horas, que, em alguns casos, coloca o funcionário como único depositante nessa relação? Quando ele precisa sair mais cedo ou até faltar, é preciso uma árdua negociação com a chefia.

E aqueles ditadores que sufocam qualquer mente pensante em seu feudo? Não seria uma contradição?

E as empresas que amam a brasilidade, mas sua gestão é moldada em suas matrizes.

É fácil usar o marketing para parecer moderno, difícil é sustentar a inovação com propósito. A diferença entre o discurso e a prática está na coragem de enfrentar contradições internas e mudar a estrutura, não só o enredo.

Ser disruptivo é mais do que adotar modismos. É ter coragem de transformar a estrutura de trabalho, investir no bem-estar e no crescimento da equipe, e não apenas no marketing. Uma verdadeira empresa inovadora não apenas paga salários competitivos, mas também proporciona um ambiente onde todos têm a oportunidade de crescer, aprender e colaborar.

A verdadeira inovação vem da prática, não da aparência. O futuro dos negócios está na coragem de ser transparente e honesto com as pessoas que fazem a empresa acontecer.

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josue-coimbra

Economista formado na PUC/SP

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