24/04/2025
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‘Combate à violência contra a mulher tem que ser feito em rede’, diz delegada

Titular das DDMs de Mogi e Suzano fala com exclusividade à GAZETA
Dra Silmara Marcelino, delegada das DDMs de Mogi das Cruzes e Suzano
Dra Silmara Marcelino, delegada das DDMs de Mogi das Cruzes e Suzano - Foto: Reprodução

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O combate à violência contra a mulher precisa ser feito de forma geral e multifatorial, como diz a delegada titular das DDMs (Delegacias de Defesa da Mulher) de Mogi das Cruzes e Suzano, dra. Silmara Marcelino. Na terça-feira (11), ela concedeu entrevista exclusiva à GAZETA, na qual falou sobre os trabalhos nas unidades e a importância de toda a sociedade estar imbuída nesse objetivo.

Confira a entrevista:

GAZETA: Na visão da senhora, como tem sido a atenção dada às DDMs, no sentido de estrutura, investimento e pessoal para atuação, por parte da SSP?

Dra. Silmara Marcelino: Olha, a Polícia Civil, como um todo, tem carecido de funcionários, então isso não é um problema só das DDMs.

Mas, falando do presente, essa atual administração tem tido um olhar diferenciado para as DDMs. A DDM de Suzano, por exemplo, tem nove anos, vai fazer dez esse ano, e nesse governo foi a primeira vez que a gente recebeu funcionários.

Teve vários momentos que o pessoal se aposentou e não tinha ninguém, e era só a minha escrivã, a Renata, eu e ela. E isso devido à falta geral, eu nem vou botar a culpa disso na Polícia, mas é a realidade de todo mundo.

Tem várias questões burocráticas até que você tenha funcionário. E daí, quando você distribui para todo mundo, às vezes nunca sobrava para a DDM, mas essa administração se preocupou com isso. Essa última leva de concurso foi pensada nas DDMs, todas as DDMs receberam funcionários.

É a perfeição? Não, não é a perfeição, mas eu particularmente sinto essa preocupação com as DDMs dessa atual administração.

GAZETA: Como é a demanda nas DDMs de Mogi e de Suzano?

Dra.: Eu não tenho ao certo porque eu acho que deu uma aumentada, mas em Suzano era em torno de 100 registros por mês, mais ou menos. Mas eu senti que esse ano começou um pouco mais.

Em Mogi eu acredito que deve dar mais de 100 por mês presencial. Já teve um mês, no ano passado, que a gente pediu 200 medidas protetivas no mesmo mês. Isso não acontece sempre. Se for fazer uma média, vai diminuir. Mas pensa, em um mês 200 pedidos de medidas protetivas, é muita coisa.

Mas isso é positivo. A gente vai ter que aumentar muito para depois começar a diminuir. E o papel de vocês enquanto mídia é muito importante pra isso.

GAZETA: Por que?

Dra: Porque quanto mais se divulga, mais as mulheres vão criando coragem para fazer essa denúncia e tentar sair desse ciclo de violência. Tem que quebrar esse ciclo.

GAZETA: Além dos casos de violência doméstica, as mulheres enfrentam também o grande problema do assédio. O que fazer em relação a isso?

Dra: Isso tem a ver também com a questão do machismo e da gente enxergar a mulher como objeto. A pessoa tem um objeto do desejo, ela olha aquilo, gosta, vai e pega, mas você não pode fazer isso com uma mulher. E a gente precisa ensinar isso para as pessoas.

Você pode admirar, você pode olhar, mas não pode tocar, não pode pegar, não é você que decide onde colocar.

As mulheres, infelizmente, estão sujeitas a isso. A gente tem que aprender desde pequena a lidar com essa situação, e não deixar que isso nos defina. É questão cultural, de conscientização, de educação.

É trabalho de formiguinha que tem que começar desde as escolas, porque a gente não consegue, de um dia para o outro, mudar uma cultura de um país. Então, a gente tem que fazer um trabalho árduo de conscientização.

GAZETA: Falando das medidas protetivas, qual a efetividade? Uma medida protetiva consegue, de fato, proteger a vítima?

Dra: Apesar de parecer que é um papel apenas, a medida protetiva tem poder. É lógico que ela não vai ter poder para todos os agressores, mas na maioria dos casos de feminicídios a vítima não tinha feito um registro antes. A medida protetiva é, no mínimo, um alerta para o agressor. Mesmo aquele que vai desobedecer.

Não vou te falar que ela tem uma eficiência 100%, porque a medida protetiva, em termos leigos, significa que a partir de agora você não pode mais falar com a vítima, não pode mais chegar perto.

São coisas que vão ser faladas: “Você não pode fazer isso, isso e isso”, e daí você vai pensar que, se fizer, você pode ser preso. Para um número bem grande de pessoas, isso é importante porque ele vai pensar “eu não quero ser preso”.

Quando você tem aquela pessoa que pensa que não tem mais nada a perder, é onde a gente tem o problema, mas num número muito grande ela funciona, tem efetividade. Não só em relação ao feminicídio, que é o mais importante, mas também para a saúde mental e psicológica da vítima.

Às vezes o cara não vai matá-la, mas não vai deixá-la em paz. Daí ela adquire uma depressão, não consegue mais fazer as coisas dela.

A medida protetiva não só preserva a vida da vítima, mas a integridade física e psicológica. A medida protetiva é perfeita? Não, não é, mas tem efetividade.

GAZETA: Então por que há tantas pessoas que têm uma impressão contrária sobre as medidas protetivas?

Dra: Minha mãe assiste aqueles programas policiais e às vezes ela me fala  “a fulana fez não sei quantos B.O.s”, mas não são todos os casos assim, e muitas das vezes que ela fez B.O. mas não pediu medida protetiva, às vezes ela até pediu, mas foi atrás, voltou com o cara. É um trabalho muito maior do que um trabalho de polícia judiciária, é um trabalho social, e por isso que a gente precisa de uma rede municipal muito forte.

A vítima não precisa só de um boletim de ocorrência, de uma medida protetiva, ela precisa às vezes de um afeto, de um lugar para morar, de uma cesta básica. A gente combate a violência doméstica. O combate à violência contra a mulher tem que ser feito em rede.

Você precisa preencher todas essas necessidades da vítima, porque vai dificultar que ela volte atrás, porque os motivos que fazem ela voltar atrás com o agressor são importantes, pode ser financeiro, pode ser emocional. Então, dentro desse trabalho de rede, não é só dar uma cesta básica, um auxílio aluguel, mas também um acompanhamento psicológico, alguém que explique pra ela que não é assim, ela não depende dele, consegue fazer sozinha, ela tem valor.

O pessoal fala em empoderamento, e empoderamento é justamente isso, é você adquirir saúde mental pra enfrentar o problema. A gente não consegue apagar o problema, porque o agressor quem é muitas vezes?! O marido que ela amava, o pai do filho dela. Você não apaga isso tão fácil. Não é simples assim.

GAZETA: E como tem sido essa rede de atendimento nas cidades que a senhora atua?

Dra: Suzano tem uma rede de apoio muito grande, um olhar muito sensível pra violência doméstica. A gente tem há um ano o departamento da mulher, a DDM já inaugurou com uma sala rosa, já com essa preocupação de parceria com a prefeitura, com a Ordem dos Advogados, para dar um atendimento mais humanizado para a vítima, um acolhimento melhor. Não é perfeito, a demanda às vezes é muito grande, mas tem esse olhar e essa vontade de melhorar. Tem tido essa assistência.

Em Mogi também tem as coisas do município, tem as ONGs, o Conselho da Mulher. Agora, nessa nova administração, se tratando de uma prefeita, já foi criada a Secretaria da Mulher, acredito que esse olhar voltado pra um embate à violência contra a mulher também vai crescer, e a rede vai ficar mais forte.

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