Graças à nossa tradição católica, o mês de junho é notoriamente um período de festa em terras brasileiras, mas, há exatamente 10 anos, a alegria deu lugar à revolta no episódio conhecido como “As Jornadas de Junho”. Iniciado como um levante paulista contra o aumento de R$ 0,20 na tarifa do transporte público, o movimento evoluiu de forma que nem os mais audaciosos de seus líderes iniciais imaginavam, e com implicações até os dias atuais.
As manifestações começaram de repente a atrair insurgentes de toda ordem, culminando no famigerado e difuso grito de guerra “o gigante acordou”. E a falta de lideranças claras foi, concomitantemente, o maior trunfo e maior mácula deste despertar.
O fato de “não ter partido” fez com que os protestos reverberassem por todo o Brasil o gritante descontentamento da população com escândalos de corrupção e a realização da Copa do Mundo de 2014. Ao mesmo tempo, deu voz a um movimento de extrema-direita e negação da política que teve – e ainda tem – implicações profundas na sociedade brasileira, culminando no forte apoio popular ao impeachment de Dilma Rousseff e mais tarde na eleição de Jair Bolsonaro.
Como qualquer acontecimento histórico, as Jornadas de Junho têm efeitos positivos e negativos, à escolha do freguês, mas é inegável o quanto elas transformaram a política em um dos assuntos mais centrais da população brasileira. E que assim continue.
Noves fora, é positiva – e fundamental – a aproximação do povo com a pauta, pela democracia. Só é preciso melhorar a forma como ela é feita.