Em 1989, o Brasil parou diante da TV para descobrir quem matou Odete Roitman, a vilã que simbolizava o poder, o preconceito e a arrogância de quem acreditava que tudo tinha um preço. Décadas depois, o mistério volta à tela — mas talvez a pergunta mais atual seja outra: quem está matando o empreendedorismo brasileiro?
Odete representava o sistema que privilegia poucos e despreza quem tenta crescer honestamente. Sua morte marcou o fim simbólico de um modelo de poder baseado no privilégio. No entanto, o Brasil real parece preso à mesma lógica: burocracia sufocante, carga tributária desproporcional e uma estrutura que pune quem sonha em empreender.
O empreendedor moderno é a Raquel Accioli dos novos tempos — aquele que começa do zero, vendendo quentinhas, doces ou serviços online, tentando prosperar em meio a um ambiente hostil. Dados do Sebrae mostram que 6 em cada 10 empresas fecham antes de completar cinco anos, não por falta de talento, mas por excesso de obstáculos.
Enquanto outros países criam pontes para quem gera emprego e renda, o Brasil ainda ergue muros. Aqui, o sucesso é visto com desconfiança, e o fracasso é tratado como vergonha. Essa mentalidade — herdada de uma elite à la Odete Roitman — é o verdadeiro veneno que corrói o espírito empreendedor nacional.
A morte da vilã foi um choque. Já o assassinato do empreendedorismo brasileiro é silencioso e cotidiano. Ele ocorre a cada crédito negado, a cada imposto novo, a cada jovem que desiste de abrir um negócio por medo do sistema.
No fim, a pergunta que ecoa não é apenas “quem matou Odete Roitman?”, mas sim: quem está matando o sonho de quem tenta empreender honestamente neste país?