Muito se fala do protagonismo de Leila Pereira no esporte brasileiro. A liderança da primeira mulher a presidir o Palmeiras em 107 anos de história e única mandatária entre os 32 clubes que disputam a Copa do Mundo de Clubes da Fifa ganhou a admiração até mesmo de quem não torce para o Verdão. Mulher forte, determinante, corajosa, prática, objetiva e pacificadora, Tia Leila – apelido carinhoso que ganhou dos torcedores – chama atenção não só pelo conjunto de assertividades que coleciona em sua gestão, mas pelo respeito que conquistou num universo predominantemente masculino.
Num cenário comumente estigmatizado de vozes silenciadas pelo patriarcado, Leila entra em campo para mostrar que o lugar de fala é também nos gramados. Seja goleando com chutes assertivos cada contrato que equilibrou o caixa do clube alviverde ou driblando a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para tornar umambiente tipicamente masculino mais saudável, Leila não hesita apitar contra os ídolos que desrespeitam contratos. Também bate na trave quando o assunto é a impunidade em denúncias de racismo, como a que envolveu o atacante Luighi,e não economiza cartão vermelho com o silêncio dos homens nos casos de Robinho e Daniel Alves.
Na zaga, ela assume o protagonismo ao defender a saúde financeira dos clubes futebolísticos. Como uma boa craque que sabe tomar decisões e o momento de se posicionar para contra-atacar, Leila mostra em campo a essência da natureza feminina: é uma fera ao questionar a CBF com argumentos econômicos e uma “mãe” ao defender a ampliação dos ganhos dos clubes. Postura esta que vem embalando os gritos da torcida – e não só a palmeirense – para que Tia Leila venha a presidir a entidade máxima do futebol brasileiro. São-paulinos, corinthianos, vascaínos e tantos outros torcedores fazem coro para ter a mandatária à frente de seus clubes e depositam nela a esperança de moralizar o futebol brasileiro nesse momento em que a CBF atravessa uma crise interna.
Na posição de atacante, Leila teve coragem para enfrentar a WTorre e cobrar a dívida milionária da gestora do Allianz num acordo que selou a paz entre o clube e a empresa. Isso sem falar que teve pulso para se colocar à frente de negociações importantes que refletiram nos rumos do Campeonato Brasileiro, como o acordo da Globo para as transmissões das partidas do Brasileirão, o que jamais teria ocorrido não fosse sua iniciativa e espírito de liderança para marcar este gol de bicicleta.
Se até xingamentos e palavrões desaparecem entre torcedores – inclusive adversários – quando Tia Leila está em campo, mesmo que seu time vá mal, não é de se estranhar ver o nome da mandatária que resgatou um dos maiores clubes de futebol do Brasil figurar entre os favoritos para tirar a CBF de seu castelo de ruínas. Diante das várias denúncias de irregularidades que geram instabilidades e suspeitas de corrupção na entidade, Leila vem dando mostras de como a presença feminina pode humanizar as relações de poder ao ponto de devolver aos brasileiros o prestígio em torno do futebol.
É assim, entre dribles, chutes e contra-ataques que ela vai aos poucos derrubando o preconceito e, enquanto centroavante, marca presença de cabeça emplacando seu lugar de fala ao fazer a maioria dos homens silenciar para ouvi-la. Falar da liderança de Leila Pereira é muito mais que contabilizar conquistas em seus mais de 30 títulos obtidos para o Palmeiras. É falar da presença de uma mulher que mesmo num ambiente ainda hostil para o público feminino, soube fazer alianças ao colocar em prática um conjunto de virtudes cívicas que favoreceram o diálogo e a cooperação entre si. É falar de conduta, presença e comportamento de uma mulher que sabe se posicionar num ambiente predominantemente masculino e não tem medo de se impor.
Nesses tempos de inteligência artificial e profundas manipulações algorítmicas de uma sociedade que carece de referenciais e perdeu a dimensão sobre o papel da mulher diante de tantos valores invertidos, a presença de Leila no esporte faz diferença. Com muitas lideranças fabricadas artificialmente e forjadas com a compra de likes e curtidas, é preciso reconhecer e valorizar o compromisso de mulheres que sabem marcar posição e pavimentar um caminho de respeito para que outras adentrem nessa arena.
PS: Texto escrito por uma mãe corinthiana na torcida pelo Mundial pela filha palmeirense e por mais mulheres como Leila.