Empreender no caos: o que o Rio de Janeiro revela sobre o Brasil real

Foto: Divulgação

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A tragédia que tomou conta do Rio de Janeiro nesta semana, com mais de cem mortos em uma megaoperação policial, ultrapassa os limites da segurança pública. É um retrato fiel de um país onde o Estado se ausenta, e o cidadão é obrigado a sobreviver por conta própria. O que aconteceu nos morros cariocas não é apenas um colapso da lei — é também o espelho de uma economia que empurra milhões para o improviso.

Enquanto helicópteros sobrevoavam o Complexo da Penha, nas vielas ainda havia gente tentando vender pão, abrir a barbearia, entregar marmitas. Empreender, nesses lugares, é um ato de resistência. Mas é também um sinal de abandono. Segundo o IBGE, parte considerável dos microempreendedores brasileiros surgem por necessidade, e não por oportunidade. No Rio, isso é literal: quem não se adapta ao caos, é engolido por ele.

A violência destrói mais do que vidas — destrói o ambiente de negócios. Afasta investidores, encarece o crédito, paralisa transportes, fecha escolas e corrói o tecido social. Não há prosperidade onde reina o medo. E o problema é sistêmico: um Estado que não garante segurança tampouco oferece condições para o crescimento saudável da economia. No fim, o brasileiro aprende a empreender não porque o país o estimula, mas porque o Estado o esqueceu.

Há quem veja na favela um símbolo de criatividade. E é verdade. Mas também é preciso enxergar o peso disso: quando o talento nasce em meio a tiroteios, ele floresce com medo. A economia da sobrevivência não substitui a economia do desenvolvimento. Ela apenas mascara a desigualdade sob o rótulo do “espírito empreendedor”.

O Brasil precisa decidir se quer continuar sendo o país do improviso ou o país do progresso. Porque enquanto o fuzil falar mais alto que o CNPJ, continuaremos confundindo coragem com desespero — e chamando de empreendedorismo o que, na verdade, é apenas a luta diária por sobrevivência em meio ao caos.

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Economista formado na PUC/SP

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