Quando se procura o significado de “favela” no dicionário, o resultado encontrado, além da origem botânica da palavra, está sempre ligado a questões de moradia e habitação precária. No entanto, deixando de lado as literalidades, essa palavra carrega uma conotação muito mais profunda e complexa, exprimindo em si o exemplo máximo da desigualdade social e econômica vigente em toda a história do Brasil.
Foi pensando nisso que a ONG Gerando Falcões, criada em 2011 pelo ativista social Edu Lyra e que se tornou referência nacional pelo trabalho realizado em comunidades carentes de todo o país, financia projetos como o Favela 3D, que acontece na Favela dos Sonhos, em Ferraz de Vasconcelos, há cerca de um ano e dois meses.
De acordo com o coordenador do projeto, Bruno Desidério, o intuito inicial era de atrair as crianças e adolescentes da favela, antes conhecida como Boca do Sapo, com oficinas esportivas e assim iniciarem um trabalho de qualificação profissional afim de inseri-los no mercado de trabalho com melhores condições de competitividade. Até que, com a chegada da pandemia, perceberam que mesmo aqueles que já tinham uma renda começaram a ter maiores dificuldades até para se alimentar.
“Percebemos que a gente estava apenas dando uma demão de tinta, mas não estávamos tratando da infiltração da parede”, explicou.
Com uma visão mais aprofundada, o Favela 3D tem como objetivo a reestruturação e transformação da Favela dos Sonhos, tendo como pilares geração de renda, com auxílio para a entrada no mercado de trabalho, seja no regime CLT ou de forma autônoma, moradia e urbanismo, com reformas de casas e espaços de convivência, e desenvolvimento social, trazendo para a comunidade acesso à tecnologia e a debates sociais.
Segundo Desidério, a chave do sucesso alcançado até o momento tem sido a participação ativa dos moradores, que mantêm permanente contato com a ONG, seja na tomada de decisões ou na hora de realizar de fato as obras, o que contribui para que haja um senso maior de pertencimento e cuidado com as áreas públicas.
Até o nome Favela dos Sonhos foi definido por sugestão e votação popular na comunidade. E, ainda de acordo com o coordenador do Favela 3D, ele exemplifica bem sua missão: devolver à favela a capacidade de sonhar.
Após um ano e dois meses do início do projeto, os números falam por si só sobre o sucesso. Hoje o índice de desemprego da Favela dos Sonhos se encontra com uma taxa de 13% (eram 72% quando o trabalho foi iniciado), 73% das pessoas estão qualificadas, 75% dos espaços foram revitalizados e 50% das moradias foram transformadas.

“A gente não está fazendo nenhum favor. Isso é direito. O povo da favela foi muito roubado, muito machucado, então a gente pode fazer isso por 100 anos que a gente não vai estar dando nada, vamos estar pagando uma dívida”, concluiu o coordenador do projeto.
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