A área da saúde no Estado de São Paulo passou por mudanças importantes nos últimos anos, principalmente após a gestão do ex-governador Rodrigo Garcia (PSDB), quando a Secretaria Estadual de Saúde anunciou uma reestruturação cujo objetivo era “desafogar” o pronto-atendimento. O Alto Tietê, claro, sentiu as consequências das mudanças, e quem as contam são os pacientes das principais unidades da região, ouvidos pela GAZETA nesta semana.
Em 2022, o então titular da pasta estadual da Saúde, Jean Gorinchteyn, falou à GAZETA sobre o projeto, capitaneado por ele, de reforçar a repartição de responsabilidades entre os entes da federação no SUS (Sistema Único de Saúde), ou seja, o Estado concentrar-se no gerenciamento de leitos e internamentos, além das especialidades médicas, e os municípios na atenção primária.
O melhor exemplo de como o processo se manifestou na prática é o Hospital Luzia de Pinho Melo, em Mogi das Cruzes, que deixou de atender no modelo “portas-abertas” em 2021, algo lamentado até os dias de hoje pela população.
Para falar sobre o assunto, a reportagem se encaminhou à UPA do Jardim Rodeio, em Mogi, um dos principais destinos dos mogianos que outrora procurariam o Luzia, como o motorista Milton Augusto de Andrade Júnior, 52, que, na tarde de quarta-feira (16), acompanhava um colega de trabalho que acabara de se acidentar.
Ele falou que, ao contrário das pretensões do Estado, os atendimentos nos serviços municipais passaram a demorar mais nos últimos anos. “Ultimamente está deixando a desejar, pela demora. Ficou mais precário, a gente precisa muito do pronto-socorro do Luzia, que era maior. Se tivesse aberto, a gente já ia direto para lá, não ficaria tão cheio quanto os postos de saúde ficam. Aliviaria bastante para a gente”, opinou.
A cuidadora Cleide Aparecida Jorg, 49, compartilha da mesma opinião. Mesmo ressaltando que quando seu pai, falecido há sete meses, ficou internado no Luzia de Pinho Melo, foi bem assistido, ela destacou que a saúde no município “ficou pior, porque as pessoas precisam do hospital”, e completou dizendo que os postos de saúde “não estão dando conta, está tumultuando muito, é muita gente”.
ITAQUÁ – A equipe de reportagem se encaminhou também a Itaquaquecetuba, onde ouviu pacientes do Hospital Geral da cidade, o Santa Marcelina, cujo pronto-socorro teve uma melhora nos atendimentos nos últimos anos, segundo os entrevistados. O fenômeno pode ser explicado pelo fato de, desde 2021, quando se iniciou a gestão de Eduardo Boigues (PL), a cidade inaugurou sete UBSs (Unidades Básicas de Saúde).
Mesmo reconhecendo a melhora, a autônoma Nilzete Pereira, 59, conta que o bom atendimento “depende do dia”. “Hoje [quarta-feira (16)] está vazio, mas na última vez que eu vim, acho que porque era sábado, estava muito lotado”, conta.
O ponto que recebeu críticas mais duras, porém, foi justamente a internação. É o caso do decorador de festas Kenedy Walass Correia da Silva, 26, cujo marido está em tratamento na UTI, que diz estar sofrendo com a falta de informações diárias dos médicos: “Não tem médico ou plantonista todos os dias, apenas de segunda, quarta e sexta-feira, e quando tem são médicos diferentes. Tem médico que não sabe nem o que aconteceu com o paciente. Teve uma que olhou para a minha cara, quando eu perguntei quando foi retirada a sonda dele, e disse ‘quando eu cheguei ele já estava assim’.”
FERRAZ – Rumando ao Hospital Regional de Ferraz de Vasconcelos, a reportagem encontrou um pronto-socorro longe da superlotação, mas ainda alvo de reclamações dos usuários.
O aposentado Osmar Rodrigues Navarro, 59, ressaltou o esforço dos servidores do hospital para bem atender à população, mas, quando questionado sobre o atendimento, disparou: “Pelos profissionais, excelente; pela estrutura, péssimo”. “Falta investimento em ser humano, mais profissionais de saúde. É muito pouco pela quantidade de pessoas”, explica.
O marceneiro Thiago de Souza Soares, 22, por outro lado, voltou suas críticas à forma como as equipes médicas têm tratado os pacientes, além da demora. Com seu filho pequeno, que havia tido um traumatismo craniano, no colo, ele relatou que é comum ser recebido com grosserias por médicas da pediatria.
“Meu filho se acidentou e quebrou a cabeça, aí a doutora ficou falando que foi falta de atenção nossa, mas é uma criança. Chega uma hora que ela vai cair. Nós falamos uma coisa e ela mandou a gente calar a boca. Eu aconselho a tirar umas doutoras daí”, disse.
Resposta do Estado
Produrada, a SES (Secretaria Estadual de Saúde) se posicionou por meio de nota; confira: