Em Itaquaquecetuba, jovens moradores decidiram transformar as próprias vivências em linguagem cinematográfica. O resultado é Arandu, curta-metragem realizado por cineastas da periferia que usam o caminhar pelas ruas da cidade como metáfora para revelar sentimentos, dilemas e potências de uma juventude que cresce em territórios historicamente marcados por desigualdade, estigmas e invisibilidade social.
O filme acompanha Naldinho, personagem que percorre as ruas de Itaquá enquanto reflete sobre o que significa ser jovem, periférico e sonhador em um lugar onde as oportunidades são escassas e os preconceitos estruturais fazem parte da rotina. Por meio desse percurso, que é ao mesmo tempo físico e simbólico, o curta aborda temas como luto, sentimento de rejeição e incertezas do futuro, sem deixar de lado o orgulho e a resistência de quem escolhe permanecer, enfrentar desafios e enxergar possibilidades dentro do próprio território.
“A periferia carrega muito estereótipo, muita narrativa contada de fora. A gente quis inverter esse olhar. Mostrar como é crescer aqui, o que a gente sente, o que a gente sonha e o que a gente enfrenta todo dia”, afirma a diretora Vitoria Rocha.
Mais do que um filme sobre a cidade, Arandu nasce da relação pessoal de Vitoria com Itaquaquecetuba. Moradora do município desde a infância, ela cresceu observando o vai e vem das pessoas, os silêncios e os detalhes que moldaram seu olhar sensível e sua vontade de contar histórias. Hoje, estudante da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), transforma esse repertório em cinema, trazendo para as telas uma perspectiva construída a partir da vivência e da memória.
“Cada esquina daqui tem algo que me atravessa, que me lembra de onde eu vim e de quem eu sou. O filme também é sobre isso, sobre entender o território não como cenário apenas, mas como parte da gente”, explica.
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Misturando elementos de ficção e documental, Arandu transforma o caminhar pela cidade em um exercício de autoexpressão e disputa de narrativas sobre a periferia. O filme parte das ruas, dos rostos e das vivências cotidianas para convidar outros jovens, tanto de Itaquá quanto de outros contextos, a se reconhecerem como protagonistas de suas próprias trajetórias.
A decisão de filmar nos trajetos reais da cidade também faz do curta um ato político e poético.
“Para além da tela, eu diria que o nosso projeto representa um gesto de afirmação coletiva, onde o cinema deixa de ser um lugar distante e se torna parte da vida, da identidade e do futuro de quem constrói o filme e de quem o assiste”, finaliza.












