Há exatos 80 anos, o mundo celebrava o fim da Segunda Guerra Mundial. Em 8 de maio de 1945, uma pequena escola em Reims, na França, foi palco de um momento histórico: a Alemanha nazista assinava sua rendição, encerrando oficialmente a guerra na Europa. O general Alfred Jodl, do comando alemão, declarou que o povo e o exército da Alemanha estavam, “para o melhor e o pior”, nas mãos dos vencedores.
A guerra, que deixou mais de 55 milhões de mortos, começou em 1º de setembro de 1939. De um lado, lutaram Alemanha, Itália e Japão, com apoio de países como Romênia, Hungria e Checoslováquia. Do outro, Inglaterra, França, Polônia, Estados Unidos, Noruega, Bélgica, Holanda, Grécia, Iugoslávia, União Soviética e o Brasil.
O Brasil tentou manter a neutralidade, mas entrou na guerra após submarinos alemães torpedearem navios mercantes, matando 971 brasileiros. Em resposta, foi criada a FEB (Força Expedicionária Brasileira), liderada pelo general Mascarenhas de Morais. Em julho de 1944, cerca de cinco mil soldados embarcaram rumo à Europa.
Mogi das Cruzes teve papel marcante, enviando mais de 400 homens ao front. Oito deles morreram: Abílio Fernandes, Américo Rodrigues (o primeiro em combate), Antonio Castilho, Brasilio Pinto, Francisco Franco, Hamilton Silva, Jamil Daglia e Otto Unger.
O fim da guerra foi recebido com festa pelos sobreviventes. Fogos, gritos e até tiros para o alto marcaram a alegria. Após a rendição dos alemães, os pracinhas mergulharam numa piscina pública de uma cidade próxima. A água escureceu de tanta sujeira acumulada após meses de combate. Depois, saíram em busca de qualquer baile com música alta para celebrar.
Um ano e cinco dias se passaram desde o embarque. Saíram meninos, voltaram homens. Em Nápoles, subiram sorrindo as escadas do navio que os levaria para casa. Às 18h30, a embarcação deixou o porto rumo ao Brasil.
O Rio de Janeiro parou. Do Porto Mauá ao Obelisco, cerca de 500 mil pessoas lotaram as ruas para receber seus heróis com aplausos, bandeiras e emoção. São Paulo também fez uma grande festa. As ruas se encheram para receber os pracinhas com orgulho. Em Mogi não foi diferente. Familiares em êxtase pela volta de seus filhos recepcionaram os jovens, que por muito tempo relatavam as histórias que viveram.
Mesmo com todas as dificuldades enfrentadas, os pracinhas mogianos guardaram boas lembranças do momento. O mogiano Paulo Pereira de Carvalho, último pracinha da cidade a falecer, em 2023, aos 101 anos, resumiu no livro “Campo Minado”, de Amair Campos:
“Dedico minha história ao Exército Brasileiro. Apesar do frio, da neve, das bombas e da fome, foram os melhores anos da minha vida. Meu muito obrigado ao povo italiano, que nos recebia com gritos de ‘libertadores’. A Itália é o país mais bonito do mundo, depois do meu Brasil.”
Como homenagem, várias ruas de Mogi receberam os nomes dos combatentes. Em 1947, foi inaugurado o Monumento ao Pracinha, símbolo de coragem e do orgulho da cidade na luta.