No dia 22 de setembro é celebrado o Dia do Rio Tietê, um dos rios mais importantes do Estado de São Paulo. Entretanto, apesar dos esforços realizados em prol de sua recuperação, ainda não há motivos para comemorar, pois na mais recente edição do estudo “Observando o Tietê”, a Fundação SOS Mata Atlântica aponta uma piora na poluição do rio no Alto Tietê, região em que o rio nasce, em Salesópolis, e “morre” em Mogi das Cruzes, há poucos quilômetros de sua nascente.
Para a realização do estudo, a qualidade da água do Rio Tietê foi monitorada num total de 576 quilômetros, de Salesópolis até Barra Bonita, na hidrovia Tietê-Paraná. Em toda essa extensão, água de boa qualidade foi encontrada apenas ao longo de 60 quilômetros, entre a nascente e Mogi das Cruzes.
Na região das cabeceiras do Alto Tietê, entre Suzano e Guarulhos, os indicadores exibem uma tendência de agravamento nas condições ambientais. E, assim como nos anos anteriores, não houve trechos com água qualificada como ótima em toda a bacia monitorada.
O aumento da mancha de poluição também ocorreu na área de cabeceira do Tietê. Em 2022, a mancha era considerada “boa” em Salesópolis, Biritiba Mirim e em um ponto em Mogi, enquanto outro trecho apresentava uma situação “regular” no município. A avaliação em Suzano e Itaquaquecetuba resultou em uma condição “ruim” em ambas as cidades.
Em 2023, a situação se manteve a mesma, exceto em Itaquá, pois no quilômetro 100 do rio, a situação passou de “regular” para “péssima”. Em 2024, a piora mostrou-se acentuada, pois um ponto avaliado em Mogi passou de “regular” para “ruim”, em Suzano foi de “ruim” para “péssima”, assim como os dois pontos avaliados em Itaquá.
Fatores contribuintes à piora do Tietê na região
Para a SOS Mata Atlântica, esta piora é decorrente do desenvolvimento da região em diversas atividades econômicas, muitas delas alterando o uso do solo ou incrementando atividades com potencial poluidor da água dos rios, do solo e da atmosfera.
Bastante conhecido por sua intensa produção agrícola, o Alto Tietê faz parte do Cinturão Verde da Metrópole e abastece o mercado regional de hortaliças e legumes. Tais atividades são realizadas, em grande parte, pelos métodos convencionais, ou seja, usando agrotóxicos e adubos químicos. Além disso, em muitas propriedades, a irrigação é feita diretamente dos afluentes do Tietê ou do lençol freático. Em ambos os casos, há o risco da contaminação ou do uso excessivo da água.
Por outro lado, a agricultura é a fonte de sobrevivência para muitas pessoas da região, evidenciando a necessidade do desenvolvimento de ações de preservação do rio sem que comprometa o trabalho dos agricultores locais, que já são bastante afetados com as enchentes, perdendo toda a produção durante os períodos de chuvas.
A região também se industrializou nas últimas décadas. Mogi, Suzano e Itaquá contam com uma série de indústrias de vários setores, muitas destas localizadas nas APPs (Áreas de Proteção Permanente) dos rios, ou seja, nas suas várzeas, o que mais uma vez representa risco direto e indireto de contaminação dos corpos d’água.
Para além destes fatores de risco, observa-se também uma expansão nas áreas destinadas a habitações, sejam elas populares ou em condomínios. Essas ocupações humanas, licenciadas ou não, resultam em remoção de áreas vegetadas, em movimentação de terra e materiais. O saneamento também é sempre um ponto delicado destas ocupações, pois a inadequação no tratamento de esgoto significará, mais uma vez, solo e água sendo contaminados. Estes novos usos do solo representam, também, maior volume de veículos e produção de poluição difusa.
Graves consequências aos moradores
Não é preciso ir muito longe para visualizar os efeitos desta piora no rio aos moradores que vivem em suas margens. Em Itaquá, os munícipes que residem nos bairros Jardim Fiorelo, Jardim Joandra, Vila Sônia, Vila Maria Augusta e Vila Japão são os mais afetados, precisando conviver diariamente com o mau cheiro, muito lixo acumulado, roedores e enchentes causadas pelas fortes chuvas, o que faz com que eles percam todos os móveis e precisem recomeçar.
Moradora da Vila Japão há 50 anos, Maria Aparecida de Sousa, 64, relata que, apesar dos trabalhos de limpeza realizados no rio, os problemas com a rede de esgoto e as enchentes ainda não foram solucionados.
“De 2010 para cá, o povo aqui vive abaixo da linha da miséria, porque a perca é muito grande (com as enchentes). O mau cheiro tem dia que é insustentável, muito rato, sujeiras, têm muitos fatores que contribuem para essa realidade. A gente gostaria que tivessem um olhar com essa finalidade (de resolver os problemas)”.
Questionada sobre o assunto, a Prefeitura de Itaquá afirmou que município realizou junto ao DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica) o desassoreamento de um trecho de 7 km do Rio Tietê, atendendo quatro desses bairros.
Para impedir danos ambientais, Itaquá também conta com a Guarda Ambiental, que fiscaliza descartes irregulares de resíduos sólidos e líquidos tanto industrial quanto pela população, além de combater as tentativas de ocupação irregular às margens do rio.
Além disso, o município iniciou as tratativas sobre o PMRR (Plano Municipal de Redução de Riscos), que será realizado com recursos do FEHIDRO (Fundo Estadual de Recursos Hídricos) e, em breve, poderá trazer incontáveis benefícios para o Rio Tietê e para a população.
IntegraTietê
Após a mobilização da sociedade em prol do rio, o “Projeto Tietê” foi criado para despolui-lo. Porém, o programa passou por uma reestruturação, com governança direta da Semil (Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado), passando a se chamar “IntegraTietê”, lançado em março de 2023, com ações de expansão e melhorias do sistema de saneamento básico, desassoreamento, gestão de pôlderes, melhorias no monitoramento da qualidade da água, recuperação de fauna e flora, entre outras medidas.
Mesmo diante de tantos problemas relatados pela população e pelo estudo da SOS Mata Atlântica, a Pasta garante que o programa do Governo de São Paulo já retirou mais de 1,7 milhão de metros cúbicos de resíduos dos rios Tietê e Pinheiros – 121 mil caminhões cheios – desde o seu lançamento.
A secretária Natália Rezende também lembra de outro pilar fundamental do IntegraTietê: a ampliação da rede de coleta e tratamento de esgoto.
“A universalização do saneamento, prevista para acontecer até 2029, vai dar um impulso enorme nesse nosso esforço de despoluição do Tietê”, enfatizou. De acordo com o programa, de 2023 a julho de 2024, 265 mil imóveis foram conectados à rede de coleta e tratamento de esgoto pela Sabesp, o que representa mais de 800 mil pessoas atendidas.
Além disso, foram instalados mais 11 novos pontos de monitoramento no Rio Tietê, além dos 26 já existentes (17 no rio e nove nos reservatórios). Os equipamentos são controlados pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), que passará a emitir semestralmente um relatório da evolução da mancha do Tietê.