A língua portuguesa é considerada uma das mais complexas e ricas do mundo, com meandros que fazem com que um mesmo objeto seja chamado de diversos nomes, a depender da região, faixa etária ou classe social do interlocutor. Talvez o melhor exemplo dessa variedade de substantivos seja a cachaça, a bebida que corre nas veias do Brasil e que tem no Alto Tietê, além de apreciadores, produtores que elevam seu nome – qualquer um deles.
Considerando que no dia 13 de setembro é celebrado o Dia da Cachaça, a GAZETA conversou com donos de alambiques da região, como é caso de Claudio de Souza, 49, proprietário da Cachaça da Divisa, localizada na Rodovia Henrique Eroles, a Mogi-Guararema, 160.
Químico por formação, ele conta que fazer cachaça era um antigo sonho, que realizou há 12 anos. Hoje, porém, diz que deixaria o alambique apenas como um hobbie: “Hoje eu não montaria.”
“É difícil segurar uma produção artesanal, devido ao processo de certificação, os processos do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), da prefeitura, o imposto sobre a cachaça é bem pesado também, mas o mais difícil é que a gente tem, hoje, vários produtos no mercado, com qualidade, sem qualidade, a concorrência é muito grande”, desabafa.
Uma das maiores referências no mercado de bebidas alcóolicas é a Canabella, cujo alambique está localizado na divisa entre as cidades de Salesópolis e Paraibuna. Seu mestre alambiqueiro, José Antônio do Prado, 42, concordou com a colocação de Souza e acrescentou que é exatamente pelo mesmo motivo que a empresa tem investido muito mais no mercado externo que no interno.
“As bebidas importadas estão competindo bastante com a cachaça, então, para ganhar o mercado com a cachaça está bem difícil, ainda tem o custo da produção que é alto, então fomos para a exportação”, explicou.
No ano de 2022, o Brasil bateu o recorde de exportação de cachaça, vendendo para 76 países, por meio de mais de 50 empresas exportadoras. Dentre elas, a Canabella.
Algo que empresas têm em comum é o fato de ambas terem desistido da produção própria da cana-de-açúcar por conta dos altos custos, passando a comprar de outros produtores e focando apenas na destilação.
Para Souza, a valorização da “marvada” enquanto produto passa também pela visão dela enquanto expoente cultural: “Vão atrás do gim, do whisky, da vodka, mas da cachaça em si, que é totalmente nossa, brasileira, se tem uma visão ruim, de que quem toma é pé-de-cana, cachaceiro. O pessoal da geração atual não tem a mesma tradição da cachaça.”
José Antônio, desta vez, tem uma visão mais otimista. De acordo com ele, as pessoas vêm entendendo cada vez mais o que é uma cachaça e, consequentemente, começarão a procura-la.
“Eu acho que está mudando, o pessoal está começando a entender o que é uma boa cachaça, separar a cachaça da pinga. A pinga é feita de qualquer jeito, a cachaça está ganhando mais nome no Brasil. Com a tecnologia da cachaça, a melhoria da qualidade dela, a tendência é melhorar, e tem vários alambiques surgindo com modernidade, cachaças muito boas”, disse.