Por Rafael Kaimbé / Arte: Giovanna Figueiredo
No dia 19 de abril comemora-se no Brasil o “Dia do Índio”, e três dias após essa data, uma outra data comemorativa bastante emblemática, o 22 de abril, data a que se atribui o “Descobrimento do Brasil”.
A história é controversa e no decurso do tempo, foi contada de diversas formas. Por muito tempo, nos foi passada a imagem dos portugueses, e de quaisquer outros colonizadores, como heróis que chegavam a uma terra e dominavam determinados povos com a intenção de tornar estes povos civilizados. Ensinar-lhes a língua e os costumes deles, moldá-los com as religiões e crenças estranhas a estes, com o fim de tornar sua vida mais nobre, melhor etc…
Sabemos que toda essa falácia esconde um período de trevas, em que povos diversos foram escravizados, aculturados, saqueados e mortos, física e etnicamente. Toda a riqueza sócio-histórica-cultural, uma gama de línguas e dialetos e uma diversidade inumerável de parâmetros de cosmovisão foi enterrada no abismo do esquecimento, à custa da avareza humana de conquistar lucro e poder.
No Brasil não foi diferente. Nossos povos indígenas que hoje somam 305 povos e cerca de 820 mil indivíduos, somava, no período do suposto descobrimento cerca de 5 milhões. A área que estes povos ocupavam e que se estendia sobre os mais de oito milhões de km2 hoje se reduz a pequenas áreas de preservação ambiental, nas quais os povos indígenas, a duras penas, conseguem sobreviver e manter viva a sua cultura. Nas Terras Indígenas, os conflitos com os grileiros e com os grandes proprietários de terras é crescente.
Desde 1500 os Povos Indígenas têm vivido uma irrestrita retirada de direitos sociais e políticos, têm sido colocados à margem da sociedade e vivido sob ataque constante dos que se pretendem superiores, seja por etnia, seja por prestígio social, pelo saldo da conta bancária etc. Entretanto, cabe lembrar que as nossas raízes estão bem fincadas.
Nosso tronco é de pau-ferro. Temos por mãe a Natureza e por pai Tupã, que nos protegem das investidas dos que tentam nos derrubar. Conhecemos nossos direitos e nas nossas limitações, vivemos a nossa cultura. Nos alegramos em nos reunir, em nos abraçar, dançar nosso toré, fumar nosso paú, beber nosso licor. Nosso movimento é forte e está em vertiginoso crescimento.
Os povos indígenas estão ocupando os espaços na política, nos órgãos de representação, na faculdade, no mercado de trabalho; preenchendo as brechas e mostrando para o sistema que estamos bem vivos. De peito aberto e cara pintada, maracá na mão e de pés descalços, nos orgulhamos de andar na terra que nossos ancestrais construíram, plantaram, colheram e onde deixaram suas pegadas de fé e uma história escrita com flechas e lanças.
História inacabada deixada em aberto, para que nós e as gerações futuras possamos, com a nossa vida, preencher o que ainda falta. E a quem essas simples palavras, ou qualquer gesto e manifestação cultural dos povos originários dessa terra tocar, fica o convite para somar, porque a Causa Indígena é uma causa comum e todos podem contribuir de alguma forma. Viva os povos indígenas de todo o mundo! Viva os Povos Indígenas do Brasil!