Por Gisleine Zarbiettis / Arte: Giovanna Figueiredo
Debater quanto o isolamento social afetou a vida das mulheres é apenas um dos inúmeros desafios para avançar nas pautas de gênero. Superar as contradições e vulnerabilidades expostas e amplificadas pela pandemia da Covid-19 impõe a necessidade de romper com o discurso vertical que até pouco tempo prevaleceu entre os perfis de mulheres que ocuparam altos postos de poder, o que ficou confirmado com o fim da era Angela Merkel, após 16 anos no comando da Alemanha.
Nessa pandemia vimos quanto as soluções em mobilidade devem caminhar em sintonia com as pautas de gênero e que países e municípios liderados por mulheres foram os que mais avançaram. Isso fez eclodir o perfil de lideranças femininas que se caracterizam por um alto grau de trabalho horizontal e colaborativo, bem como uma mudança de discurso, como já fazia Ada Colau, prefeita de Barcelona, na figura genuína de mãe e gestora pública oriunda dos movimentos de moradia.
Foi neste contexto que Jacinda Ardern, primeira-ministra da Nova Zelândia, se tornou exemplo ao mostrar para o mundo que as pautas de gênero devem estar no centro das mudanças sociais. Merkel, inicialmente apontada como ‘campeã’ entre líderes da União Europeia no combate ao coronavírus, não sustentou esse título.
É da resiliência urbana de nomes como Ada e Jacinda, que souberam responder às demandas sociais de nosso tempo, que o reinado de Merkel chega ao fim. Embora tenha consagrado a imagem de mulher forte e poderosa, o perfil de Merkel e outras lideranças que chegaram a altos postos de poder por fazerem um alto grau de adaptação ao sistema não dialogam com as demandas de nossa época.
A história é testemunha do quanto precisamos de lideranças que representem as mulheres sub-representadas nos espaços de decisão e de poder político, bem como as sobre-representadas no cuidado invisível, para superar essa crise.