Agentes agiram com truculência contra o povo, que se uniu para evitar demolição de imóvel
Por Aristides Barros / Foto: Bruno Arib
A A GCM de Mogi das Cruzes lembrou os “velhos” tempos do ex-prefeito Marcus Melo (PSDB), quando ela partia com fúria sobre manifestantes que participavam de atos contrários ao aumento do IPTU, e fez ação idêntica na manhã de terça-feira (13), quando “foi para o tudo ou nada” contra os moradores de uma ocupação irregular no Jardim Planalto (Oropó), em uma ação questionável de desocupação. A área pública ocupada é protegida por leis ambientais.
Houve o enfrentamento dos guardas com moradores que não fugiram à luta e se uniram para evitar a demolição da casa da gari Berenice Alves da Silva Batista, 34. A mulher acusou que guardas agrediram ela e sua filha, de 4 anos. A criança estava no colo da mãe e sobre ambas teria sido lançado gás de pimenta.
Uma casa ao lado da moradia da gari foi demolida e a dela não veio abaixo devido à forte resistência dos moradores. Porém, GCMs entraram na casa de Berenice e jogaram todos os pertences da família no terreno ao lado da casa.
Receoso de que sua casa também fosse demolida, o ajudante geral Emerson Franco da Silva, 30, interveio na ação. “Disseram que derrubariam só a dela, mas a minha é encostada, e se a dela caísse, a minha ia junto”, revelou.
“Sabemos que não é certo morar aqui. Mas a prefeitura não deveria agir desse modo, tinha de conversar com a gente, propor uma solução para o nosso problema”, disse o ajudante geral.
O sentimento de indignação era presente no rosto de todos os moradores.
Guardião
O ajudante de mecânico José Carlos Gomes de Amorim, 48, teve papel decisivo na resistência do Jardim Oropó. Foi ele que, ao ver a chegada da GCM, anunciou aos moradores o perigo aproximando e que entrou na casa de Berenice, ficando no local e impedindo que o trator destruísse o imóvel.
A resiliência do trabalhador custou-lhe uma “ameaça de prisão”, alguns golpes no corpo e foi retirado violentamente do local por dois GCMs, que após levá-lo para a rua o derrubaram no chão como se fosse um saco de batatas. Indagado se se sentia um herói pela forma como resistiu e conseguiu que a casa fica-se em pé, Amorim respondeu: “Herói é Deus, que põe a gente no mundo para fazer as coisas certas.”
Agente da Prefeitura de Mogi tentou atrapalhar o trabalho da reportagem
A reportagem da GAZETA chegou na ocupação no momento em que o secretário de Segurança de Mogi das Cruzes, André Junji Ikari, falava com os moradores. A reportagem entrevistou o secretário, que antecipou que será aberta uma investigação para apurar a conduta do agentes na ação.
De acordo com ele, o trabalho de apuração terá duração de 30 dias, e pode ser prorrogado por mais tempo. Ikari seria perguntado sobre o que pode acontecer se for comprovado o abuso de autoridade por parte dos GCMs. A indagação não foi possível porque ele, literalmente, correu da reportagem.
A secretária de Assistência Social, Celeste Gomes, também foi ao local. A titular da Pasta demonstrou contrariedade à ação da Guarda confirmando que, antes de uma operação desse nível, assistentes sociais vão ao local para ver a situação de família.
Também indo até a ocupação para “dar apoio” aos moradores, a vereadora Inês Paz (PSOL) disse que a ação da GCM deve ser alvo de apuração na Câmara Municipal.
Barrados
Em dado momento da presença dos secretários de Segurança e Assistência Social no local da desocupação, ambos se reuniram com moradores dentro da casa que seria demolida.
A reportagem tentou acompanhar a reunião, mas foi impedida por uma pessoa que se identificou pelo nome de Jair, e que seria funcionário da prefeitura. O episódio foi visto pelos jornalistas como cerceamento à liberdade de imprensa.