Por Gisleine Zarbiettis / Arte: Giovanna Figueiredo
Vivemos uma crise sem precedentes. Nunca uma sociedade que produziu tanta informação foi ao mesmo tempo tão refém da comunicação. Apesar da expansão das novas tecnologias digitais estimuladas pela internet com sua capacidade de descentralizar a informação, é neste ambiente que se reproduz o discurso do ódio e do preconceito. É também nesse contexto que o negacionismo ganha força e se estruturam sentimentos como medo, lapidando comportamentos que ameaçam nossa democracia.
As mudanças de paradigmas da sociedade, impulsionadas pela tecnologia e pelas mídias sociais, têm ajudado a compor estrategicamente um ecossistema de atores para promover a desinformação. Alguns fatos reforçam a percepção de que a crise que vivemos está no cerne de duas áreas que precisam ser rediscutidas e interligadas: a educação e a comunicação.
Em países com democracias avançadas, como é o caso da Finlândia, que tem um dos processos eleitorais mais robustos, a sociedade está praticamente imune dos efeitos de decisões tomadas a partir de notícias falsas. Com a Imprensa totalmente livre e a Justiça independente, a corrupção não ocupa relevância por lá.
O respeito às liberdades de expressão, religião e associação são respeitadas e a igualdade de direitos a mulheres e grupos étnicos se sobrepõem aos problemas. Não há fórmulas milagrosas por trás do mecanismo finlandês. O que existe é um projeto educacional estruturado na ação da cidadania.
No Brasil o fenômeno das fake news passa por um processo contínuo de estruturação das narrativas na internet. As mentiras passaram a produzir realidades. Não à toa, o professor espanhol Manuel Castells diz que “vivemos a sociedade da informação desinformada”. Considerado um dos mais importantes teóricos da Comunicação na atualidade, Castells elucida melhor esse contexto ao afirmar que se temos tanta informação e nenhuma capacidade de processá-la o problema está na educação.
Retomar o protagonismo nas redes é uma das saídas apontadas por Castells para vencer a batalha da desinformação. É o que ocorre na Finlândia, onde pluralismo e democracia são conceitos trabalhados em sala de aula a partir da leitura crítica dos noticiários. O ensino da mídia é uma necessidade em tempos de tantas incertezas políticas, econômicas e sociais.